Pausa

Texto da peça Arraial ou um espetáculo para não pensar (Colectivo A Tribo)

Ali vão. Eles e elas. Convencidos de que a festa ainda agora começou. Comportam-se como seres felizes. Riem à gargalhada de comentários parvos. Gesticulam enquanto falam e olham mesmo uns para os outros. À volta, as barracas de artesanato são coloridas. Volta e meia, eles e elas aprochegam-se e cuscam o que está nas bancas. A vendedeira – a vendedora do antigamente – fala sobre os seus dotes para as artes e como aquilo que faz é único. Eles e elas ouvem e agradecem. Fazem-se ao caminho, porque ainda há muito para ver e para comentar.

 

Não se percebe bem o que festejam, nem se realmente se trata de uma festa. Quer dizer, a avaliar pela música que sai dos altifalantes, deve ser mesmo uma festa. E de vez em quando eles e elas também cantam, dançam e riem. Riem muito. De alguma maneira é como se este momento fosse um momento de suspensão. Como se o tempo parasse e aquele preciso momento fosse um intervalo, um espaço de folga entre aquilo que foi e aquilo que virá a ser. Aliás, é um espaço de folga daquilo que é. Um espaço de folga do presente. E nesse espaço aquelas pessoas – eles e elas – são felizes. Fizeram pausa deles próprios, fizeram pausa dos outros, fizeram pausa da vida.

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