Se eu fosse um mapa

Texto da peça Ensaio para um Eu (Colectivo A Tribo)

Se eu fosse um mapa, estaria segura de mim. Como se soubesse os caminhos a percorrer. Como se soubesse os pontos de partida. Como se soubesse onde quero chegar. Como se me perder fosse pouco provável. Como se o sentido de orientação me estivesse embutido. Como se eu começasse e acabasse em mim mesma. Se eu fosse um mapa, era uma seca... A não ser que eu fosse um mapa em construção. É isso. Se eu fosse um mapa, seria um mapa em construção.

 

Se eu fosse um mapa, estaria insegura de mim. Como se não soubesse os caminhos a percorrer. Como se não soubesse os pontos de partida. Como se não soubesse onde quero chegar. Como se me perder fosse muito provável. Como se o sentido de orientação estivesse ainda naquele cantinho do mapa que não está pronto. Se eu fosse um mapa, era uma aventura.

 

Eu não sou um mapa, eu sou um território.

 

Qualquer mapa que eu seja, será sempre uma representação de mim, mesmo que seja eu a construir o mapa. Agora, se eu fosse mesmo o mapa, seria o mapa com mais espaço livre de sempre. Um mapa curioso. Um mapa aberto ao mundo. Um mapa onde nos perdemos mais vezes do que nos encontramos. Um mapa que convida à descoberta. Um mapa que diz que o caminho pode ser o que quisermos. A aprendizagem está no percurso. O que interessa são as viagens únicas. Onde vamos chegar é só o sítio onde vamos chegar. E o que interessa isso para quem está sempre em movimento?

 

Isso, se eu fosse um mapa, seria um mapa livre. Assim, quem visse caminhos em mim, poderia explorar o mapa como bem entendesse. Encontrar áreas que são minhas, outras que não são, outras que eu gostava que fossem minhas ainda as que eu não gosto que cá estejam. Eu estou no meu mapa. E os outros também. Eu trouxe-os cá para dentro. Integram-me e desintegram-me. Tornam o meu mapa mais rico. E eu? Eu sou um mapa. Em construção. Inseguro. Cheio de aventura. Livre.

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